Cidadania Digital

28 julho, 2005

O Micro Universo de cada Um...

Tive a felicidade de assistir ao excelente documentário "EDIFÍCIO MASTER".
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"O prédio que fica a uma esquina da praia tem 12 andares e 23 apartamentos por andar. Ao todo, são 276 apartamentos conjugados, que abrigam cerca de 500 pessoas. Desse universo, 37 personagens foram escolhidos para protagonizar o filme. "
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Como o próprio nome sugere, o documentário está relacionado ao edifício em questão, mas vai muito além, tratando diretamente as relações de convivência que são compartilhadas nesse edifício ao longo dos anos.
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Após essa breve sessão de meu "Cinema em Casa", percebi que carregamos experiências e vivências extremamente particulares e que estão constantemente "esbarrando" nas das muitas pessoas com que nos relacionamos, quanto mais "micro" esse espaço, como é o caso dos 'Apartamentos', maior a necessidade da tolerância, de uma certa busca pelo seu espaço individual, uma identidade em um espaço tão diverso.
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Outra sugestão interessante é o filme "O Terminal". Quando ouvi este título achei que fosse relacionado a um doente "terminal", além de me enganar seriamente, fiquei surpreso com a conscistência da história, ilustrando nossa capacidade nata de estabelecer vinculos de relacionamento e convivência mesmo nas situações mais adversas.
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Fico por aqui e convido a todos para que possamos debater assuntos como esse tomando o chazinho da tarde...

24 julho, 2005

Inclusão Digital como prática educativa permanente!

"Hoje percebo que Educação e Inclusão Digital não podem caminhar em separadas..."
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Desde que iniciei meus trabalhos nos telecentros e após isso no Teleceu me atenho ao potencial pedagógico das ações relacionadas à Inclusão Digital.
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Nesse caso tive e ainda tenho, a alegria de compartilhar um espaço aonde isso pode ser conjugado (CEU - Centro Educacional Unificado). Esse debate é recente e ainda caminharemos muito até encontrarmos a equação ideal.
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A meta é a atuação técnica equilibrada com o pedagógico, assim, encontraremos os meios mais adequados de ensino-aprendizado, quebrando as grandes barreiras encontradas; em geral, advindas da realidade social das comunidades atendidas e reflete diretamente na assimilação dos conteúdos lógico-matemáticos que trabalhamos com o uso das tecnologias.
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Um grande desafio aos educadores e técnicos - de antemão, posso afirmar que estamos no caminho certo, restando somente uma formação adequada desses profissionais, para que vejam em suas ações esse potencial de construção coletiva...

21 julho, 2005

O início de minha história com Inclusão Digital...


Há três anos iniciei meus trabalhos com Inclusão Digital, na época coordenei um projeto ligado a ong CDI São Paulo.
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Tudo que vivênciei desde então me levou ao trabalho que desenvolvo hoje no Telecentros e Teleceu.
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O trabalho do CDI me transmitiu a seriedade do tema e sua urgência em uma comunidade que conheço desde minha infãncia pela carência de recursos e iniciativas públicas, hoje muito mudou e grande parte dessa mudanças deve-se a pessoas que aplicaram suas idéias em prol da comunidade.
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Fica o convite a todos para que participem conosco dessa luta. Contribuam!

19 julho, 2005

Nazismos e Driscriminação Social

Nazismo:
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"Em nome dessa idéia, um país inteiro se armou e destruiu a Europa. De onde ela veio? O que havia nela que fascinava as pessoas? E qual é a chance de que aconteça de novo?"
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Desde minha adolêscencia sinto uma certa curiosidade em relação ao tema: nazismo e discriminação.
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Explico: Acho que um leva ao outro e vice-versa.
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Essa é uma visão que de certo modo no aproxima do potêncial destrutivo empregado em um dos momentos sombrios da humanidade, tendo como pano de fundo as grandes guerras. O que nos assusta ao refletirmos seriamente o assunto e é importante frizar que a questão é séria mesmo.
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Avançamos poucos centímetros em relação à tolerância e aceitação do outro e em muito paises pelo mundo afora pipocam situações não muitos distantes das vividas nas últimas grandes guerras.
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Daí, minha satisfação ao ler o material elaborado na última edição da revista SuperInteressante. Já sou um fã da revista e li com satifação a materia que está à disposição em meu DISCO VIRTUAL (Senha: educaremtempo).

Indicação de Filme - Papa João XXIII

Um homem que tornou a Igreja mais humana!
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Tive a oportunidade de assistir nesta útilma Segunda-Feira um filme sobre um dos grandes Papas deste Século que foi o Papa João XXIII.
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Um filme singular que ajuda a entender grande parte dos embates que acontecem nos bastidores do Vaticano, como também sua "tendenciosa" visão conservadora.
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Uma reflexão necessária, pois grande parte das questões relevantes de hoje estão direta ou indiretamente relacionadas à religião ou convicção religiosa.
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Fica o convite para futuros bate-papos a respeito ou alguma sugestão interessante...

18 julho, 2005

Como tornar o Brasil um país de leitores?


Este mês a revista "Educação" trás em sua capa uma matéria interessante:
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"Biblioteca o preço do descaso"
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O enunciado me levou imediatamente à reflexão do pontencial da leitura a um real crescimento cultural do nosso país e porque não dizer de cada pessoa indiviudualmente.
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Mesmo sem ler a matéria, sei que a questão é desanimadora: Adolescentes com dificuldades cognitivas graves, com relação à leitura e escrita; os meios de comunicação dando papel secundário a questões como essa, levando ao descaso pelo tema; os governos que não encontraram alternativa viável que reverta o problema repercutindo em um real ganho educacional.
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É momento de trocar idéias, elaborar alternativas e quem sabe encontrar uma trilha que projete um futuro mais promissor...

Uma Utopia Militante

Um Livro interessante, em um momento de turbulências e crise de governabilidade...

Link Na Editora Vozes

17 julho, 2005

O Guardião dos Sonhos

Fiquei muito interessado em materiais onde pudesse entender um pouco mais sobre a cultura e as lendas dos índios americanos.
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Esse filme se tornou uma referência a altura de minha expectativa, a sequência de histórias e o contexto o qual são contadas torna o filme uma oportunidade única à compreensão de uma cultura indígena bem diferenciada da dos índios da américa do sul.
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Sinopse e Compra do DVD

03 julho, 2005

Um Texto bem interessante para Reflexão...

História do Brasil, 1984-2004 – A divulgação pela Editora Manifesto da primeira versão do texto de referência que marca o começo da produção da série de doze edições especiais que, encadernadas, comporão os quatro volumes da coleção Retrato do Brasil

DA ALEGRIA AO ESPANTO

As multidões que foram às ruas para derrubar a ditadura militar e pedir um novo modelo de desenvolvimento econômico viram o País entrar na roda viva da globalização e se submeter à ditadura do capital financeiro.

A ditadura militar que derrubou o reformista Jango Goulart da Presidência do Brasil em 1964 mergulhou o País numa era de repressão e terror. Mas terminou em 1984 quando multidões saíram às ruas por eleições presidenciais diretas e um novo modelo de desenvolvimento econômico: a explosão popular de alegria e esperança forçou os generais a negociarem sua saída do poder.

Pode-se encerrar a etapa seguinte da história do País em 2004, depois de quatro eleições presidenciais diretas, no final do segundo ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, líder metalúrgico que fora um dos dirigentes do movimento popular de 1984. Lula, o primeiro presidente operário na história do Brasil, foi eleito em 2002 numa conjuntura de crise. Adotou, então, uma postura de extrema moderação – inclusive, reforçou a política de pagamento da dívida do governo anterior. A expectativa era de que se tratasse de uma pausa, para retomar em melhores condições a proposta de mudanças. Dois anos depois, no entanto, não só o governo continuou com as mesmas políticas, como o grande movimento de massas que o tinha levado ao poder dava sinais de estar encerrado, sem forças para impulsionar as transformações. E estas, no entanto, pareciam ainda mais necessárias: em certos aspectos, o País continuava igual ao de 20 anos antes -- um dos mais injustos do mundo, com uma das piores distribuições de renda, uma das piores distribuições de terra; e, em outros aspectos, parecia ter piorado -- o desemprego deu um salto, o índice de violência nas cidades adquiriu proporções novas. No final de 2004, quais as perspectivas de que se retomasse a proposta das mudanças?

Pode-se tentar ver o futuro olhando para trás, a partir de dois grandes eventos, que parecem sintetizar décadas de história: a eleição de Lula em 27 de outubro de 2002 e os atentados terroristas contra os EUA de 11 de setembro de 2001. A eleição de Lula foi o ponto culminante da trajetória do Partido dos Trabalhadores. O PT se apresentou para o País como o partido de esquerda de tipo novo, que se propunha a renovar a política dos que lutavam pela transformação social. Foi fundado em 1980, no auge de lutas operárias contra a ditadura militar. A ditadura surgira para destruir a esquerda antiga, de tradição comunista, formada no Brasil no início do século 20 e, na ocasião, aliada do reformismo getulista.

Jango, o presidente deposto em 1964, era o herdeiro de Getúlio Vargas, o comandante da Revolução de 1930, o movimento que acabou tomando o poder no País depois das revoltas dos famosos tenentes (nos anos de 1920, o País viveu diversas rebeliões lideradas por jovens oficiais militares contra a República Velha, o limitado regime controlado por chefes políticos regionais que se instalou no Brasil a partir de 1889). Entre os tenentes que viveram até os anos da ascensão do PT deve-se citar, à direita, Ernesto Geisel, general-presidente de 1974 a 1978 e, à esquerda, Luiz Carlos Prestes, o mais famoso dirigente comunista brasileiro. Em 1984, o PT se opôs às negociações do PMDB, o grande partido de oposição legal à ditadura, com os generais – negociações que acabaram redundando na eleição dos civis Tancredo Neves e José Sarney, para presidente e vice, num Colégio Eleitoral. O PT pregava a continuidade da mobilização popular. A essa altura, Lula era, para muitos, a esperança de uma democratização mais ampla, que as manobras da ditadura não conseguiriam impedir. Significava também a possibilidade de superação das limitações do reformismo de cunho nacionalista que Getúlio representou e ao qual o PMDB de Tancredo e Sarney dariam continuidade. E, indo além, Lula ainda manteria no horizonte o sonho da revolução social que Prestes não conseguiu fazer.

Não se pode, no entanto, contar a história das lutas sociais no País como se o PT e Lula contivessem o seu começo e o seu fim. Desvendar a história que os ataques terroristas de 2001 contra os EUA condensam tem o papel de ajudar a entender esse quadro mais geral do qual o governo Lula e o PT fazem parte. Os atentados são parte das contradições que se seguiram ao desfecho da Guerra Fria, a luta entre dois mundos que emergiram da Segunda Guerra Mundial (1939-1945): o capitalista, liderado pelos EUA, e o socialista, liderado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Bin Laden, o pai espiritual dos suicidas que comandaram os aviões-bomba do 11 de setembro nasceu em família de elite da Arábia Saudita, país árabe pró-EUA, muito conservador, e começou sua carreira de terrorista no Afeganistão, contra a URSS, com apoio dos americanos. Quando se uniram a Bin Laden, no início dos anos 1980, os americanos estavam em campanha de recuperação. Nos anos 1970, tinham visto sua economia mergulhar numa crise grave: a inflação disparara e os juros reais se tinham tornado negativos, desencorajando os empréstimos e aplicações em papéis financeiros. O país repudiou unilateralmente – em 1971 de forma parcial e em 1973 de forma completa – os acordos financeiros do pós-guerra nos quais garantia um peso equivalente em ouro para cada dólar. No campo político e militar a situação não era melhor.

Em 1974, o presidente Richard Nixon renunciou depois de ameaçado por um processo de impeachment. Em 1975, o país foi batido completamente no Vietnã, depois de lá ter colocado 500 mil homens e ter tido 50 mil mortos. Na sua primeira fase de recuperação pós-Vietnã, os EUA se aproveitam da divisão do movimento comunista internacional, então separado em dois campos antagônicos: um liderado pela China e, outro, pela URSS. Em 1972, Mao Zedong, o grande líder chinês, recebera o presidente Nixon em seu país. E a China considerava a URSS e os EUA superpotências imperialistas iguais. Os EUA se apresentam, então, a partir do governo de Jimmy Carter (1977-1980), como os campeões internacionais da defesa dos "direitos humanos", condenando ditaduras como a chilena e a brasileira, que antes haviam apoiado. Ainda no campo ideológico, aproximam-se também de movimentos religiosos. Entre os católicos, apóiam o papado conservador de João Paulo II, iniciado em 1978, contra a Teologia da Libertação, doutrina progressista que apóia os movimentos revolucionários na América Latina. E, dentro do islamismo árabe, apóiam líderes sunitas – como Saddam Hussein, do Iraque, e o saudita Bin Laden, contra outra ameaça religiosa, a dos xiitas iranianos. Liderados pelo aiatolá Khomeini, os xiitas tinham feito uma revolução em 1979 e derrubado o xá Reza Pahlevi, um símbolo do poder americano no Oriente Médio ( Pahlevi fora o homem dos EUA no golpe que derrubou o líder nacionalista iraniano Mohamed Mossadegh em 1953, golpe que praticamente inaugura o colonialismo do pós-Segunda Guerra, sob hegemonia americana).

O PT surge do lado socialista, nesse contexto. O fato de o partido se apresentar como inteiramente novo permite que atraia velhas e novas dissidências da esquerda comunista tradicional. Vão para o PT correntes anarquistas, que se separaram dos marxistas na Primeira Internacional dos Trabalhadores, no final do século 19, onde se confrontaram Karl Marx e Bakunin. Vão correntes social-democratas que, em 1914, na eclosão da Primeira Guerra Mundial, por defenderem o apoio aos esforços bélicos de seus países, separaram-se dos leninistas, liderados por Lênin, que iria chefiar a Revolução Russa de 1917. E vão trotskistas, grupos admiradores de Leon Trotsky, ex-dirigente da Revolução Russa, expulso daquele País quando se consolidou o poder de Stálin, no final dos anos 1920. E, finalmente, ainda da tradição comunista, vão para o PT também dissidentes de segundo grau: dissidentes do Partido Comunista do Brasil, que acabara de ser derrotado pelos militares na Guerrilha do Araguaia e que no Brasil podia então ser tido como a dissidência de linha chinesa.

Um segundo bloco de forças no PT veio dos movimentos religiosos, de algum modo inspirados na renovação propiciada pelo papado de João XXIII (1958-1963), considerado um inspirador da Teologia da Libertação. São forças diferentes das que se aglutinaram, por exemplo, em torno do polonês Lech Walesa, o eletricitário do estaleiro de Gdansk, fundador do sindicato Solidariedade. Walesa teve importante apoio dos americanos, ao contrário de Lula. Ronald Reagan, presidente dos EUA de 1981 a 1989, desenvolveu uma relação especial com o papa polonês João Paulo II e através dele apoiou Walesa e o Solidariedade, perseguido pelo governo comunista da Polônia. Walesa foi eleito presidente em 1990, no apogeu do movimento de derrocada da URSS – em 1989 caíra o Muro de Berlim; em 1991 a URSS seria dissolvida. Na nova eleição presidencial, em 1995, Walesa foi derrotado pelo partido social-democrata, onde se abrigaram os ex-comunistas. Em 2000, foi derrotado de novo pelos mesmos adversários: teve apenas 1% dos votos – e declarou que abandonava a política.

No caso de Lula a situação é outra e os tempos são diferentes. Lula disputou eleições presidenciais no Brasil pela primeira vez em 1989, com um programa nitidamente de esquerda – e perdeu para Fernando Collor de Mello. Lula perdeu de novo, mesmo com programas cada vez mais diluidos, em 1994 e 1998. Nas duas vezes foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso (FHC), que fora marxista nos final dos anos 1950 e caminhou muito mais rapidamente para a direita: ajudou a fundar, no final dos anos 1980, um partido social-democrata, o PSDB, que se converteu ao consenso de reformas liberais inspiradas pelos americanos já no início dos anos 1990.

Para se entender as mudanças no PT de 2004 é preciso levar em conta, portanto, as graves derrotas do movimento socialista no quarto de século anterior. O desmantelamento da URSS é a maior dessas derrotas, mas não é a única. Em 1976 morre Mao e os chineses reconhecem o fracasso da Grande Revolução Cultural Proletária, que ele comandara por dez anos para corrigir os rumos da revolução chinesa, a partir do exame dos erros dos soviéticos, e que despertara enormes simpatias entre a juventude, pelo mundo inteiro. Pouco antes de morrer, o próprio Mao trouxe Deng Xiaoping, que ele considerara um revisionista de direita, para o posto de vice-primeiro ministro do país. Em 1978, já no Comitê Central do partido, Deng encaminha e vence a votação que resulta praticamente na abolição do sistema de comunas rurais , sob o qual se organizava a grande massa da população chinesa: o Estado passa a arrendar a terra aos camponeses e dar amplo curso ao uso do dinheiro e das relações mercantis na economia, que faz explodir o número de empresas privadas no País e marca o início das reformas na China.

Pode-se dizer que os chineses recuaram organizadamente: suas estatais são reduzidas, de cerca de 250 mil empresas para cerca de 150 mil, mas mantêm-se um amplo sistema de propriedade coletiva dos meios de produção e um rígido controle do movimento de capitais no país. Mas, os próprios chineses admitem, eles não sabem se o recuo que consideraram indispensável lhes permitirá, ao cabo de tudo, manter o sistema socialista. De qualquer modo, eles recuam também do debate socialista internacional e abrem mão do poder de veto que têm na ONU, passando a se abster em votações críticas como as duas nas quais a organização internacional acabou como que lavando as mãos nas guerras americanas movidas contra o Iraque.

Do lado capitalista, os americanos sentem-se cada vez mais à vontade. Desde 1980 com a campanha presidencial de Reagan, eles pregam a construção de uma nova ordem econômica internacional, sobre os escombros da derrocada soviética e aproveitando-se também do revigoramento dos mecanismos de mercado na China. Essa nova ordem viria de uma nova economia. A economia capitalista liberal clássica valorizava o mercado. A economia socialista tradicional enfatizava o planejamento. Após a crise financeira deflagrada em 1929, os Estados capitalistas avançados adotaram políticas de intervenção estatal para corrigir as imperfeições dos mercados. A nova política econômica neoliberal supervaloriza o mercado e defende um Estado Mínimo. No próprio campo cultural, a produção para o mercado ganha ampla adesão. Os americanos George Lucas e Steven Spielberg fazem Guerra nas Estrelas (1977) e E.T. (1982) com os efeitos especiais maravilhosos que deslumbram as crianças e contribuem, como disse um crítico, para infantilizar os adultos de todo mundo. O cinema americano vai batendo recordes sucessivos de bilheteria com esse tipo de produção e dispara na frente de toda a indústria de cinema que anteriormente tivera peso – como a italiana, a francesa, a japonesa. Mas é no campo da manipulação do capital que os americanos se superam em criatividade.

Nos centros financeiros americanos, da velha New York Stock Exchange, a bolsa de Wall Street, e da nova Chicago Mercantile Exchange, o mercado futuro de moedas nacionais criado após o fim dos acordos de Bretton Woods, desenvolve-se a engenharia financeira. Ela também utiliza os efeitos especiais possibilitados pela computação e as telecomunicações e cria contratos de todos os tipos para a circulação do capital-dinheiro à velocidade da luz, on-line – em tempo real , globalmente. Os anos 1990 são, como diz então o presidente do Federal Reserve, o banco central americano, Alan Greenspan, a década da exuberância irracional dos mercados. Nos dez anos, o Dow Jones Industrials Average , o principal índice da bolsa de Nova Iorque, subiu mais do que nos seus 200 anos de história. A expansão começou no final de 1990, no meio da Guerra do Golfo, a primeira invasão do Iraque comandada pelos EUA, que, aparentemente, consolidou o entusiasmo do grande capital com a nova pujança americana, já aceso com a queda do Muro de Berlim um ano antes.

A euforia financeira americana se dá num contexto de crise dos modelos neoliberais adotados nos países em desenvolvimento e nos que se reconverteram ao capitalismo por esse modelo a partir da derrocada soviética. Em fins de 1994, há uma grave crise financeira no México. Em 1997, outra, na Ásia; em 1998, mais uma, na Rússia. Em 1999 é a moeda brasileira que desmorona. O governo Fernando Henrique, através do Plano Real fortalecera artificialmente a moeda nacional, como vários outros governos latino-americanos – Argentina e México, por exemplo. O Estado e os grandes grupos privados tomavam grandes empréstimos externos; a entrada de dólares valorizava a moeda local. A nova moeda brasileira, o real, passou a valer, em alguns meses, até mais que um dólar; e o governo garantiu um dólar a um real até o final de 1995. Em meados de 1998 o País quebrou, com uma maciça fuga de dólares. No fim do ano, o governo FHC recebeu um empréstimo gigante do FMI e caiu sob a tutela da instituição. E em fevereiro de 1999, sob pressão do mercado, o real quebrou e o Banco Central do Brasil foi forçado a deixar a moeda flutuar de acordo com a oferta e a procura.

O ano de 1999 parecia ser, no Brasil, o ano da falência final do modelo neoliberal e o passo inicial da arrancada para a eleição de Lula num projeto de grandes mudanças. Em agosto foi organizada uma grande marcha dos movimentos populares a Brasília, com a consigna "Fora FHC", que reuniu cerca de 100 mil pessoas. A palavra de ordem surgira após a divulgação de gravações secretas de telefonemas da presidência do BNDES, com detalhes das manobras do governo no processo de privatizações e nas negociações com o FMI. O PT começou a recuar da idéia de um confronto com o projeto neoliberal a essa altura da luta política. No final de 1999, no seu 2º Congresso, em Belo Horizonte, disputaram a presidência do partido duas chapas: a da esquerda, chefiada pelo carioca Milton Temer; e a da corrente majoritária do partido, encabeçada por José Dirceu, que disputava a reeleição. Dirceu ganhou o Congresso de BH com 54,27% dos votos contra 32,38% de Temer, depois de jogar uma espécie de tudo ou nada contra a proposta do "Fora FHC". Essa consigna era uma bandeira comum de vários partidos de esquerda, entre eles o próprio PT, que a aprovara em praticamente todos os seus diretórios estaduais. A eleição de Dirceu já estava garantida, mas ele quis ganhar e, ao mesmo tempo, expurgar o "Fora FHC" do programa de seu partido. Disse então que renunciaria à presidência se a consigna fosse aprovada. E acabou derrotando a proposta, com apoio de Lula.

No ano 2000 o PT teve um enorme crescimento nas eleições municipais – elegeu, inclusive, a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, que derrotou o candidato direitista Paulo Maluf. No final do ano, o modelo neoliberal global sofreu grande derrota, com o estouro das bolsas americanas. O final da expansão financeira dos anos 1990 já tinha se dado num clima ruim, de ganância infecciosa, para usar novamente os termos do presidente do Federal Reserve. O crescimento da Bolsa se mantivera muitas vezes pela aceitação contábil de lucros discutíveis, como se as empresas quisessem continuar crescendo ao estilo do Barão de Münchausen, o cavaleiro da fábula que conseguia voar puxando por seus próprios cabelos. A partir do final de 2000 o castelo de papéis da nova ordem global desmoronou. O valor das empresas na Bolsa caiu muito em geral e, para algumas, em particular, a queda foi de mais de 50%. A Enron, que era a mais badalada das empresas da nova economia nos EUA e com importantes programas de produção de gás natural e energia termelétrica baseada neste combustível em dezenas de países do mundo, desabou.

O destino da Enron ajuda a entender as implicações para o Brasil do cataclisma que abalou o mercado financeiro. A empresa tinha disparado o processo de privatização do gás natural da Bolívia. No Brasil, era a grande incentivadora do desmantelamento do modelo estatal de geração de energia hidrelétrica e de sua substituição por um sistema de termelétricas sob controle privado que consumissem o gás natural boliviano. Sua principal executiva internacional, Rebecca Mark, vinha regularmente ao Brasil e era conhecida não só do presidente FHC como de toda a alta cúpula do setor elétrico do país. Em 25 de fevereiro de 2000 Fernando Henrique tinha presidido reunião na qual tinham sido anunciados contratos para meia centena de termelétricas, muitas das quais com equipamentos já comprados no exterior. O desastre das bolsas globais afetou todos esses negócios, tornou as hipóteses nas quais eles se baseavam irreais. E os executivos dessas grandes corporações passaram a se movimentar pelo mundo para salvá-las. No caso do setor elétrico brasileiro, por exemplo, eles se empenharam em manter inúmeros contratos cujas bases estavam superadas e nos quais estatais do País eram a parte prejudicada com a mudança da conjuntura. Fernando Henrique manteve todos esses contratos, a despeito das mudanças (e o governo Lula faria o mesmo no início de 2003, a despeito de vários integrantes de seu governo os terem chamado de contratos imorais).

No começo de 2001, com a derrota do "Fora FHC", a direção do PT já se propunha, no fundo, a ganhar as eleições sem grandes mobilizações que pudessem, naquela altura dos acontecimentos, desembocar em ameaças de ruptura da ordem. A conjuntura internacional continuou, no entanto, se agravando. A situação na Argentina tornou-se muito ruim – como o real, o peso argentino, outra das moedas atreladas ao dólar nos planos neoliberais, começou a quebrar. Em março, o governo de Fernando de la Rúa, eleito numa plataforma de luta contra o neoliberalismo, desistiu das reformas econômicas que iniciara e chamou para o ministério Domingo Cavallo, justamente o arquiteto das reformas neoliberais. Começa então no país uma seqüência de manifestações populares contra o governo.

A conjuntura internacional torna-se muito mais grave após os atentados terroristas de setembro nos EUA. No final de 2001, numa conferência nacional no Recife, o Diretório Nacional do PT formulou os pontos básicos do programa do governo Lula e insistiu na tese de que era necessária uma ruptura com a política econômica anterior, de dependência dos capitais financeiros internacionais. O ano termina de modo dramático com um primeiro desenlace da crise argentina: depois de distúrbios de rua reprimidos pelo governo que deixam 29 mortos, de la Rua renuncia. Vários governos se sucedem no país num período de semanas. E as manifestações continuam, pedindo mudanças profundas.

No início de maio de 2002, ao apresentar seu programa de governo, Lula de certo modo formaliza a proposta que José Dirceu fizera passar pelo PT no Congresso do partido em Belo Horizonte. Diz que, se eleito, manterá o ajuste fiscal, levado a efeito pelo governo FHC, especialmente a sua meta central, que era a de obter um superávit primário, uma economia entre receitas e despesas, de 3,75% do PIB, como acertado com o FMI, para pagar juros. E que sua anunciada política de investimentos públicos com a qual o Estado retomaria o crescimento e a criação de empregos seria restrita à área de infra-estrutura – sem uma revisão do processo de privatizações e sem novas estatais na área econômica, portanto. No final de maio, o então prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Palocci, que assumira o cargo de coordenador do programa de Lula após a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em janeiro, disse em entrevista que interpretar a "ruptura" proposta pelo PT como "quebra de contratos" é "uma leitura errônea do texto", que teria sido redigido num contexto específico, que não seria mais válido.

Em junho, Lula divulgou a "Carta aos Brasileiros", que essencialmente era uma carta aos credores do País, com os dois compromissos esperados por eles. Depois de anunciar que "uma lúcida e criteriosa transição entre o que temos hoje e o que a sociedade reivindica", o texto dizia: "Premissa dessa transição será naturalmente o respeito aos contratos e obrigações do País". E: "Vamos preservar o superávit primário o quanto for necessário para impedir que a dívida externa aumente e destrua a confiança na capacidade do governo de honrar seus compromissos".

Lula visitou a Argentina e os EUA logo depois de eleito. Não seguiu o exemplo americano na economia. De uma hora para outra, o governo americano tornou-se keynesiano. A utilização de políticas fiscais para estimular a economia foi pregada pelo economista John Maynard Keynes (1883-1946) e ficou conhecida como keynesianismo, tendo sido largamente aplicada pelo presidente Franklin Delano Roosevelt na recuperação da economia americana após o Crash de 1929 e na Europa e Japão após a Segunda Guerra Mundial. Combatendo o liberalismo puro dos que acreditavam que o mercado tudo resolve e estabiliza, Keynes dizia que os governos podem e devem fazer maciços gastos públicos para minimizar os efeitos negativos dos ciclos econômicos. Keynes tinha sido sepultado pelo neoliberalismo a partir dos anos 1980. Mas, diante da crise econômica ele foi ressuscitado: o país que pregava o Estado Mínimo e o déficit zero para os países emergentes, elevou o déficit público americano espetacularmente: destinou US$ 15 bilhões para ajudar as companhias aéreas em dificuldades, entre US$ 60 bilhões e US$ 75 bilhões para investir em diversos setores, incluindo a reconstrução das áreas destruídas em Manhattan, e mais U$ 40 bilhões para a defesa do país. Esses estímulos fiscais ficaram acima de 1% do colossal PIB dos EUA. Adicionalmente, o Federal Reserve rebaixou as taxas básicas de juros da economia sucessivamente ao longo de meses, levando-a ao patamar de 2,5% ao ano, o mais baixo desde 1961, quando o então presidente John Kennedy também enfrentava uma recessão econômica.

Lula também não seguiu o exemplo econômico da Argentina, que decretou moratória da dívida externa e depois forçou uma renegociação na qual obteve grandes descontos para pagamento dos débitos. Logo no início de 2003, sua equipe econômica adotou a atitude oposta – elevou os juros e aumentou o corte de gastos do governo em relação ao nível do último ano de Fernando Henrique.

A dependência financeira do Brasil, que os dois primeiros anos de Lula confirmaram, é um problema antigo. O Brasil quebrou em 1982, com os generais, e sua taxa de crescimento desabou dos cerca de 10% dos anos do milagre econômico para menos de 3% médios nos 20 anos posteriores, em grande parte porque o banco central americano, no início do processo de recuperação financeira dos EUA, elevou os juros brutalmente para perto de 20% ao ano. Na época, o Brasil tinha uma dívida externa de cerca de 100 bilhões de dólares contraída em grande parte a juros flutuantes. Nas últimas duas décadas, muita coisa mudou. Nos anos em que os americanos estiveram em recuperação o mundo assistiu a uma espécie de milagre japonês: em 1990, na lista dos 15 maiores bancos do mundo, 11 eram japoneses, entre os quais os nove maiores. Uma década depois, no entanto, em 2001, os americanos já haviam se recuperado: na mesma lista dos 15 maiores bancos do mundo tinham sete, entre os quais os dois maiores. E, como se viu, já no final do ano 2000 o crescimento da economia americana apoiada na financeirização encalacrou.

Ver o mundo pelo lado financeiro é importante. Mais importantes ainda são os problemas sociais. Os ataques terroristas de 2001 contra os EUA, são prova disso. Eles parecem, de início, um raio em céu azul. O presidente americano Reagan dizia que os guerrilheiros afegãos eram "o equivalente moral dos Pais da Pátria Americana". Com os atentados, era como se o mundo tivesse virado de ponta-cabeça: os guerrilheiros se voltavam contra o coração – o prédio do Pentágono, o centro do poder militar – e contra a alma – as torres do World Trade Center, em Manhattan, centro do sistema financeiro – americanos. Por mais que esses atentados despertem horror eles foram uma demonstração de problemas sociais de fundo que existiam na nova ordem capitalista consagrada nos anos 1990. No caso do Brasil é como se o País tivesse sido integrado a essa ordem a contragosto das multidões que foram às ruas em 1984. Com certeza as multidões não tem noção clara desses grandes movimentos sociais. Talvez por serem movimentos muito amplos e poderosos, como o da rotação da Terra em torno do Sol, que não se consegue perceber.

O País no qual o PT e Lula surgiram foi o do surto de crescimento e concentração da classe operária em grandes fábricas, sob o Regime Militar. Era muito diferente do Brasil agrário e de população majoritariamente camponesa da República Velha, do qual Prestes emergiu como herói após sua famosa marcha de 25 mil quilômetros. Diferente também do País que se industrializou sob comando do Estado, com Getúlio Vargas, e cujo modelo de desenvolvimento foi interrompido com o golpe de 1964. E muito diferente ainda do País no qual o PT se consolidou e finalmente chegou ao poder: a grande indústria automobilística do ABC, onde Lula foi torneiro mecânico, deixou de ser pólo de atração para os trabalhadores de todo o País e desempregou maciçamente. Grande parte da população trabalhadora brasileira virou subempregada. Ser trabalhador qualificado da classe operária de São Bernardo do Campo passou a significar fazer parte de uma elite operária da economia global, parte da classe média do País. E o Brasil tinha cerca de 100 milhões de pessoas distantes dessa elite: 30 milhões de miseráveis e 70 milhões de trabalhadores pobres.

De que modo o movimento pelas mudanças iria começar de novo era uma questão em aberto.